Confesso que nunca havia pensando em visitar o Alasca, porém com meu irmão morando lá, resolvi me aventurar e dar um pulo neste estado Americano que faz fronteira com o Canadá e é pouco conhecido aqui no Brasil. Como já mencionei no blog, a princípio, o roteiro das minhas férias era visitá-lo no Alasca e fazer uma road trip, passando pelo Canadá até Nova York durante o mês de novembro. No entanto, por falta de tempo e motivos pessoais, o Alasca e a road trip ficaram fora do meu roteiro.
Com a viagem se aproximando e sabendo que meu irmão não poderia me encontrar em NY, decidi visitá-lo e passar um pouquinho de frio nesse outro lado dos EUA que também é conhecido como “Last Frontier”.
Dentro do avião que me levava de NY até a cidade de Anchorage, Alaska (AK), fiquei imaginando tudo o que poderia encontrar nesse lugar tão diferente e desconhecido, as palavras-chaves que me vieram à cabeça foram:
Neve
Iglu
Pescaria no gelo
Cães puxando trenó na neve
Urso polar
Iceberg
Frio
Pinguins
Centros de pesquisa
Cidade pequena
Hambúrguer gigante
Poucos jovens
Lareira
Vinho
Bares com mesa de bilhar e jogos de arco e flecha
Aurora Boreal
Luva, cachecol e gorro
Quando cheguei em Anchorage, vi que tudo o que eu havia imaginado sobre o lugar não fazia muito sentido, fiquei surpresa e perplexa, até achei que estava no lugar errado. Não havia iglu, pescador, icebergs, cães com olhos azuis puxando trenó e nem neve ao redor.
Perguntei ao meu irmão onde estava a neve e ele me disse que normalmente começa a nevar em novembro, mas que variava de um ano para o outro, e que este ano seria mais tarde provavelmente em dezembro, pois este ano foi quente comparado a 2013. Normalmente, para quem quiser aproveitar a neve, praticar ski, snowboarding ou outra atividade no gelo, os meses de novembro até março são ideais. Este ano, porém, a neve só chegaria em dezembro.
Logo após pegar minhas malas, fomos jantar em uma pizzaria/pub bem conhecida em Anchorage, o “Mooses Tooth”
http://moosestooth.net/ ou "Dentes de Alces", que tem ótimas pizzas gourmet e excelentes cervejas produzidas “
in-house.” Escolhemos uma “Chicken Rockfeller Pizza” acompanhada por uma cerveja artesanal chamada “
Beer Tooth Ale,” que provou realmente que os alasquianos entendem da arte de produzir cervejas e estão bem avançados e sofisticados em culinária e bares. Adorei o lugar, um ambiente muito descontraído e agradável.
Descobri que Anchorage é uma metrópole vibrante e eclética. Uma cidade de tamanho media porém bem desenvolvida. Sendo a maior cidade do Alasca, com um espírito de fronteira, localizada em um dos cenários mais espetaculares do mundo.
A cidade é abraçada por seis cadeias de montanhas e aquecida por um clima marítimo. Os dias de verão parecem intermináveis, chegando a mais de 20 horas de claridade no dia (junho) e inverno com dias bem curtos, chegando a ter somente 5:30hs de claridade no dia 21 de dezembro que é o dia mais curto do ano.
Anchorage é uma cidade jovem, fundada em 1915, mas que possui um passado fascinante. Com uma população com mais de 300 mil pessoas, a cidade representa quase metade da população do estado de Alasca, que tem aproximadamente 740 mil habitantes. Ou seja, o estado tem menos habitantes que Campinas, que tem mais de 1 milhão de habitantes.
Em termos comparativos, pode-se considerar o Alasca parecido com o estado do Amazonas. Ambos são riquíssimos em recursos naturais, são imensos comparados com outros estados, possuem uma densidade demográfica baixíssima e tem a maior parte de suas terras e riquezas ainda inexploradas.
No primeiro dia em Anchorage, uma volta de carro pela cidade já me familiarizou com o lugar, as ruas planas (e sem neve), shoppings, muitos hotéis e diversas franquias por toda parte me faziam perceber o quanto eu estava equivocada sobre o lugar. No entanto, as montanhas em volta com o topo coberto de neve ainda me faziam lembrar que eu estava no Alasca! A última fronteira da civilização de nosso continente.
Visitei o museu de Anchorage que é o maior museu do Alasca e oferece uma valorização combinada de arte, história e ciência que promove uma profunda compreensão da história e da cultura do Alasca. Aprendi que o Alasca é o maior estado (em tamanho) dos EUA e foi admitido à união como o estado 49 em 1959. Situa-se no extremo noroeste do continente norte-americano, sendo vizinho do Canadá e da Rússia.
Adquirido pelos EUA em 1867, o território foi apelidado de “insensatez de Seward,” pois muitos políticos criticaram ferozmente o então secretário de Estado William Seward, que foi o responsável pela negociação de compra do território diretamente da Rússia. Os críticos da compra acreditavam que a terra não tinha nada a oferecer e geraria mais custos ao país.
A descoberta de metais preciosos, alguns anos mais tarde, provou que Seward “acertou em cheio.” A descoberta de ouro criou uma “corrida do ouro,” semelhante a que aconteceu no Brasil, em Minas Gerais no século XVIII, o que gerou uma debandada de garimpeiros e colonos vindo de outros estados Americanos em busca do “American Dream” da época. Hoje em dia o Alasca é um dos estados Americanos mais ricos em petróleo e recursos naturais.
Fizemos uma viagem de carro até Fairbanks que é a segunda maior cidade do estado.
Em Fairbanks está localizada a University of Alaska Fairbanks, a mais antiga das universidades alasquianas, com mais de 10 mil estudantes em 2014. De Anchorage até Fairbanks são 358 milhas o que é equivalente a 576 Km. Foi a viagem mais impressionante que já fiz em toda a minha vida.
Com meu irmão ao lado, música agradável, paisagens que mudavam a cada curva feita. Quanto mais nos distanciávamos de Anchorage, atravessando pelo Parque Nacional de Denali (
http://www.nps.gov/dena/index.htm) rumo a Fairbanks, mais eu ficava encantada com a beleza natural da região: árvores verdes em um primeiro momento, árvores cobertas pela neve em outros, montanhas cobertas de neve, rios congelados, estradas intermináveis, pontes e assuntos discutidos que eu desejava que nunca terminassem.
Foram sete horas de viagem. As sete horas de viagem mais apreciadas que já tive ao lado do meu irmão. Conversamos sobre tudo, rimos e traçamos objetivos futuros!
De Fairbanks fomos até Chena Hot Spring. Eu não tinha ideia do que era, meu irmão apenas disse que era um lugar turístico e onde tinha água quente. À uma hora de Faibanks, numa estrada reta e paisagem espetacular, Chena Hot Spring fica num lugar afastado de comércio ou vilarejos. Seguimos as placas, que aliás não informavam a distância que faltava até chegar ao local. Quando finalmente chegamos, vimos que estávamos no final da estrada. Olhei, parei, pensei, questionei: Fim da estrada?
A estrada terminava na entrada do Resort, o Chena Hot Spring (
http://www.chenahotsprings.com/). Fomos conhecer as águas quentes. Uma piscina natural foi feita com a água quente que saia das pedras. A sensação de dentro da piscina era agradável e relaxante, o que me fez refletir em minha viagem e em como muitas coisas boas tem acontecido em minha vida nos últimos anos. Refleti por um tempo e fiquei grata a minha família, amigos, mentores e colegas de trabalho que tiveram uma influência positiva e que certamente contribuíram de alguma forma para que eu estivesse alí naquele momento.
A paisagem em volta com montanhas e árvores com neve, chão cobertos de neve e o frio intenso gerou uma sensação indescritível. Não dava vontade de sair de dentro da piscina, quando o calor começava incomodar, pegava um pouco de neve na borda da piscina e passava no meu ombro e braços. Assim conseguia um equilíbrio na temperatura! Descobri que gelo e água escaldante se anulam e proporcionam bem estar!
Ao conversar com o atendente do Resort, perguntei como surgiu o lugar, ele disse que foram os garimpeiros, durante a corrida do ouro, que perceberam fumaça saindo de um riacho e solo e que mais tarde foram descobrir que se tratava de águas térmicas. A ideia de um resort surgiu mais tarde para atrair o turismo para aquela região. Ele disse também que um político conseguiu aprovar a estrada que, a não ser pelo Resort, não levava a lugar algum, pois ninguém morava ao redor. Perguntei o que havia depois do resort, já que ali era indicado com uma placa o fim da estrada, ele simplesmente respondeu “Nothing.” Me dei conta que estávamos no fim do mundo, parei por um segundo e pensei: Será que não era o começo?
Fiquei imaginando como foi difícil e desafiante aos primeiros seres-humanos chegarem ao continente Americano. Pois, como aprendemos na escola, os primeiros seres humanos vieram do Norte da Ásia pelo Estreito de Bering, atravessando da Rússia até aqui onde estávamos, Alasca, e seguindo rumo ao Sul até chegarem no Brasil e outros países Sul-Americanos. É impressionante como eles conseguiram sobreviver neste frio, cheio de animais selvagens e território tão inóspito. Pois até hoje, com toda tecnologia e equipamentos, ainda é muito perigoso se aventurar e fazer caminhadas pelas montanhas do Alasca. Imaginem como foi difícil há 14 mil anos atrás?
Passamos uma ótima tarde nas águas térmicas do Chena Hot Spring “no fim do mundo, ou começo” ainda não sei ao certo onde estava! Olhando o lugar em um mapa ilustrativo, vi o final da estrada, a entrada do resort, muitas árvores e montanhas após o resort e depois a fronteira com o Canadá, sim, eu estava muito longe de casa!
No final do dia, retornamos a Fairbanks, tentamos ir ao museu de gelo, mas estava fechado devido a reformas. Esperava que iria ter a chance de ver a Aurora Boreal, pois Fairbanks é uma excelente cidade para ver este fenômeno. A Aurora Boreal é um fenômeno óptico composto de um brilho observado nos céus noturnos nas regiões polares em decorrência do impacto de partículas de vento solar com a alta atmosfera da Terra, canalizadas pelo campo magnético terrestre. No hotel onde ficamos pedimos para nos ligar caso o fenômeno ocorresse naquela noite. Me lembro que acordei as 5hs da manha, olhei pela janela e não vi o fenômeno, desci até a recepção e perguntei se havia ocorrido e se eles tentaram nos acordar. Não, naquela noite não teve Aurora Boreal :(
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Aurora Boreal que eu não vi... |
No dia seguinte, de Fairbanks fomos para o Polo Norte visitar a casa do Papai Noel. A cidade é uma atração para turistas do mundo inteiro. Sua maior atração é uma loja de presentes chamada Casa de Papai Noel (
http://www.santaclaushouse.com/visit.asp), ela é conhecida mundialmente por ter a maior estátua de fibra de vidro de Papai Noel.
Enquanto o verdadeiro Pólo Norte não tem terra firma, muitos viajantes descobriram esta cidade como uma forma ideal para finalmente visitar a casa do Papai Noel. Antes do Natal, o USPS local (correios norte-americano) recebe milhares de cartas para o Papai Noel e milhares de pessoas viajam até a cidade a cada ano para enviar seus cartões de natal para suas famílias, para que tenham o carimbo postal da cidade, o CEP 99705 é reconhecido como o código postal do Papai Noel. Um programa comunitário também responde a cartas endereçadas ao bom velhinho.
De volta para Anchorage, ainda tivemos tempo de fazer compras, subir uma montanha (de carro), de onde era possível ter uma linda vista da cidade, ir a uma loja nada convencional, na qual vendia toda espécie de bugiganga que você possa imaginar. Desde um Pinóquio por 120 dólares, cabeça de animal empalhado e até um “
whale dick” (melhor não traduzir. Mas, entre a gente, quem compraria um “
whale dick”???). Impossível não se divertir com os produtos expostos na loja!
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Balcão da loja |
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My brother and the "whale dick" |
O vendedor, um simpático senhor, nos deixou a vontade para fotografar tudo que queríamos! Não compramos nada, porque ele não sabia cobrar, tudo muito caro! Encontrei algumas lembrancinhas idênticas no WalMart por um terço do preço oferecido na loja!
Para finalizar, fomos ao “Chilkoot Charlie (
http://www.koots.com/), um bar muito popular em Anchorage. Um pub com decoração típica do Alasca, com mesas de bilhar, karaokê, banda de rock e muitos jovens! Aproveitei para experimentar outras cervejas Alasquianas e mais uma vez fiquei surpresa pela qualidade das “
beers,” do ambiente e serviço. Para quem esperava iglus e vilarejos de pescadores e caçadores, fiquei surpresa pela modernidade e qualidade dos serviços oferecido pela cidade.
Me enganei em muitos pontos sobre o Alasca, mas acho que todos nós somos assim. Imaginamos lugares de acordo com o que conhecemos e muitas vezes somos influenciados pela mídia, que nos mostra imagens e propagandas que reforçam estereótipos, mas que muitas vezes não descreve toda a realidade.
Com esta viagem inesquecível, posso dizer que o Alasca tem um lado rústico, selvagem, com uma riqueza natural incrível e imensurável. Porém existe também um lado moderno, desenvolvido, acolhedor, sofisticado, urbano e jovial representado por Anchorage e outras cidades, que são lindas, ricas culturalmente e oferecem turismo e entretenimento de alta qualidade.
Aproveitei e aprendi muitas coisas nesta viagem. Adorei o Alasca e recomendo a todos irem conhecer este paraíso ártico, repleto de belezas naturais com uma infraestrutura de primeira classe, com boas estradas, hotéis, restaurantes, comida, cervejas artesanais, segurança e opções de laser.
Frio? Não passei muito não, talvez fosse pela época que fui e também pelo fato de eu adorar o inverno. O que eu faria novamente no Alasca? Viajaria mais 7 horas de carro até as águas térmicas do Resort Chena Hot Spring apenas para ter certeza se lá é o começo ou o final do mundo!
Grande beijo (gelado) da Aless
P.S O Vi também colaborou com o post!